13/06/2012


Pede mais uma cerveja  na tentativa de que eu caia nas suas palavras vomitadas no balcão e pensando bem me pede algo mais forte logo de cara pra ver se todo esse álcool deixa  seu papo menos deplorável. Aposto meus últimos sete reais do fim de semana  que pela agilidade em que me conta cada detalhe do seu novo corte descolado pos-moderno-retro de cabelo que essa  noite vai ser longa.
Senta aqui que agora vou te contar
Não quero saber onde você trabalha muito menos se sua cueca é da diesel, e notar  que meu corpo te interessa mais que minha opinião..é isso sim me dá cansaço.
Pouco me importa o ar condicionado e seu banco de couro, sou muito mais sentar no meio fio, tomar um vinho barato sem ter que ouvir sua lista de desejos compraveis. Me pergunto como pode dizer que sou linda se nem ao menos olhou no meu olho, e em meia hora trocou meu nome três vezes.
Prefiro ter botões e enchergar  confetes.
Não me atrai nenhum pingado a idéia de viver  nessa valorização externa, agir próximo da  ideologia mercantilista de quanto se acumular melhor será o homem, não!
É, não me desce.
Talvez eu concorde com os fisiocratas de que a riqueza provem da terra, ou com aquele mendigo que a uns dias ao dividirmos uma cerveja dize-me que o pouco para ele era muito. Quer choque maior que esse?
É ai que paro e penso: Putz! Esse cara descalço, com aspecto de que não tem um banho a muitos dias, e que provavelmente vai dormir naquela rua mesmo me propiciou uns 10 minutos de conversa que conseguiu ser muito, muito mesmo, mais aproveitável que  aquelas duas horas de ladainha com o bonitinho, e pior de tudo é saber que o motivo é que ele foi ele mesmo. “Apertou o famoso foda-se”,  não forçou a barra manja?
Pra esses sim eu pago um puta de um pau!
Mas calma ai rapaz, não estou sofrendo de amor incondicional pelo andarilho, apenas me chamou a atenção, admiro esses que remam contra a maré e não perder o motivo de sorrir.
É por essas e outras que acredito que o que tá em falta é autencidade, falta coragem na cara dessa sociedade - e muito mais na minha que tanto vibro porem não tiro a bunda da cadeira- pra ir em frente,  se conselho fosse bom todos ouviriam Raul ao dizer faça o que tu queres pois é tudo da lei , mas a gente só canta  e esquece de reproduzir.
Na real o que me dá medo mesmo é de um dia achar que só sorri pra fora, e pausar os calafrios das borboletas que dançam dentro de mim. Ser só mais um não me aparentam valer a pena.
Eu quero valer a pena. 

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